OS TIGRES E A BURRA
Esgota-me...
Esta luta cruel e insana
Todos os dias, todas as horas, todos os momentos
Contra os tigres internos a atormentar minh’alma,
A instigar meus demônios
Raivosos, revoltos e insensíveis
À dor de outrem, à insignificância dos humildes,
À insuportável convivência com os desvalidos.
Fiz-me rei. Sou rei!
Serei eu que rei?
Quais os limites de meu reinado?
Risíveis.
Ao norte, a indecência pecaminosa. Ao sul, a avareza mordaz.
Ao leste, a divisão do indivisível. Ao oeste, a subtração de vis metais,
Tilintantes em trinta moedas, extorquidas dos miúdos.
Subtração de valores não meus,
De igualdades, de esperanças e de fé;
Subtração das felicidades que não se medem
Dos que pouco têm, bens perdidos e a perder,
Dos que não precisam da morte de seu igual
Para coroar o êxito fugaz,
Daquele vil metal de seqüestro para transbordar a burra,
Que não paga e não retira
O sono daqueles que não precisam
Domar tigres,
Porque não os têm; não os querem.
Eu, também, agora, não os desejo mais:
Os tigres, os demônios, a burra.
Natal, 22 de novembro de 2011.